A chuva caia fina sobre o cascalho recém colocado sobre a terra, ele ainda podia sentir o cheiro de terra revolvida recetemente.
Sua mente ainda estava em agitação e suas mãos trêmulas - o que havia feito?
Ele pegou suas ferramentas e levou-as para o depósito, onde guardou-as meticulosamente. Tirou as botas e calçou seus sapatos habituais e foi em direção a casa, lançando, ao chegar a porta um olhar rápido para o pequeno retângulo oculto sob uma camada de cascalho, que só ele sabia onde ficava. Fora brilhante a idéia de usar da pista de entrada, pois ninguem jamais iria verificar aquela parte de seu quintal.
Agora que a adrenalina estava baixando em seu sangue, começou a raciocinar com clareza e compreendera que sua vida jamais seria a mesma, afinal, ele tinha assassinado a esposa.
Tudo acontecera muito rápido, em poucas horas seu mundo desabou de tal forma que, em desespero havia feito a única coisa que a ele parecera sensata, agora já não parecia tanto. A coisa toda começou quando, por força de uma indigestão, precisou ir para casa mais cedo. Ao chegar na entrada de carros percebeu um carro estranho em frente de casa, mas não o reconheceu, imaginou que fosse algum pestador de serviços consertando algo, mas não se lembrava de ter ouvido a esposa reclamar de nada quebrado.
Quando entrou em casa, percebeu que algumas coisas estavam absurdamente erradas - um sapato no meio do corredor, mais adiante uma jaqueta de couro jogada no chão, evidenciava que algo estava realmente muito errado. Chegando ao andar de cima, encontrou outras peças de roupa no chão e entendeu o que estava acontecendo - não precisava ser mais claro.
Ele, em silêncio, dirigiu-se ao pequeno armário do corredor e tirou de lá sua faca de caça, e sabia exatamente o que ia fazer com ela. Ele sabia que esse dia chegaria desde o dia em que comemoraram um ano de casamento. Ele percebera sua ausencia em um certo momento da festa, claro que sabia o que ocorrera, compreendera no momento em que a vira, mas não demonstrara o que sabia - nada como um dia após o outro. Enfim, seu momento supremo havia chegado, e enquanto se dirigia para o quarto, seu coração dava socos em seu peito, e ele sentia cada pulsação em suas têmporas umidas, suas mãos estavam pegajosas e frias e a faca parecia viva. Mas, matá-la somente não era suficiente, ela tinha de saber porque estava morrendo.
Tudo foi muito rápido, em questão de segundos estava terminado. Ainda estvam cochilando, e tomaram um tremendo susto quando ele entrou pela porta com a faca na mão, o que facilitou, pois não hove reação por parte deles.
Um golpe certeiro abriu o pescoço do outro homem, e seu corpo caiu em estertores. A seguir ele se dirigiu para a esposa - enfim ela teria oque merecia. Quando ele se aproximou, ela tentou argumentar, mas suas palavras só aumentaram a raiva que queimava seu peito. Um único golpe atravessou o coração dela e foi suficiente. Coração por coração - afinal ela não havia partido o seu? Embrulhar os corpos em cobertore não fora difícil, o difícil foi transportá-los para baixo. Quanto ao outro, jogou-o no porta-malas do carro, o lixão da cidade teria prazer em acolher este lixo.
Em seguida, levou o corpo da esposa para um canto da garagem e deixou-o ali. À noite ele iria fazer aquilo que tinha de ser feito.
Logoao escurecer, ele certificou-se de que não havia vizinhos pelas proximidades e começou a remover o cascalho da entrada de carros. Foi fácil, o difícil seria cavar fundo o suficiente para que pudesse enterrar o corpo dela. Esse era um fim digno, ela seria pisada, assim como o espezinhara por cinco longos anos. Um sorriso malévolo flutuou em seu rosto enquanto ele media a sepultura.
O trabalho foi mais difícil do que imaginara, no início ele até conseguiu cavar a terra com uma certa facilidade, mas em certo momento o chão tornara-se duro e cheio de pedras - o aterro da entrada de carros. Quando finalmente terminou de cavar, suas mãos estavam machucadas e queimavam horrivelmente. Em pensar que iria ter de encher o buraco novamente.
Levou o corpo dela até a beirada da sepultura e rolou-o para dentro do buraco. Ouviu o baque surdo do corpo batendo no fundo da cova e isso lhe provocou um certo prazer.
Encher o buraco foi mais fácil do que imaginara, e a terra que sobrou, foi jogada no jardim que elafazia questão de cultivar e manter sempre arrumado. Enfim tudo estava acabado, e ninguem jamais suspeitaria dele, pois ele nunca comentara com ninguem sobre as aventuras de sua esposa.
Agora, depois de ter limpado todas as evidencias da sua vingança, calmamente olhava mais uma vez pela janela. A chuva estava aumentando, o que prejudicava, pois ele tinha de se livrar do corpo do amante. Decidiu fazê-lo assim que a chuva desse trégua.
Subiu calmamente os degraus que levavam ao andar de cima, e entrou no quarto agora arrumado e limpo. Deitou-se na cama e ficou olhando para o teto, sentindo o corpo ceder ao cansaço e deu-se um momento de descanso.
Um barulho muito forte o tirou de seu cochilo e ele percebeu que dormira mais que o necessário, quando acordou já eram mais de três da manhã. Levantou-se do sofá onde estivera e esticou as costas, foia até a cozinha e pegou um copo de água, pois sua boca estava seca e sua garganta estava ardendo. Quando chegou ao corredor que dava para a saída, deixou o copo cair e o barulho de vidro quebrado soou como uma explosão no silêncio da madrugada. A porta estava escancarada. Ele tinha a certeza de te-la fechado quando voltara para dentro, mas agora ela estava aberta e isso o deixou intrigado.
Ele foi até a porta pronta para fechá-la novamente, mas no momento em que chegou a soleira, o que ele viu o paralisou completamente. O suor brtou em sua testa e em sua nuca, ele podia senti-lo escorrendo por suas costas, seus olhos, com certeza, estavam lhe pregando uma peça, aquilo era impossível. Ele recordou-se das milhares de estórias que ouvira na vida sobre o assunto, mas era estórias, ficção, nada justificava aquilo. No entanto, paralisado na soleir da porta, ele contemplava horrorizado, o recente túmulo de sua esposa completamente aberto, a terra que ele havia aplainado com tanto cuidado estava revolvida e na trilha de carros havia um buraco.
Ele não precisava ir até lá para saber que o corpo de sua mulher não jazia mais naquele buraco. Mas como? Não havia como sobreviver aos ferimentos, quando ele a jogara na sepultura ela já tinha perdido grande parte do seu sangue, e não precisava ser um médico experiente para saber que era impossível que houvesse vida naquele corpo.
O medo, que até agora estivera sob controle, finalmente explodiu dentro dele, fazendo-o tremer ao ponto de bater os dentes. Os cabelos de sua nuca eriçaram-se e um arrepio frio desceu por sua coluna como se fosse água gelada. Ela havia saído da sepultura - não, isso era fantasioso demais, impossível.
Quando se dispunha a sair e ir até a garagem, para ver se o amante estava realmente morto, ouvira o barulho no andar de cima. Alguém andava no quarto deles.
O medo crescia a cada segundo, mas mesmo assim ele decidiu por um fim a isso, e encaminhou-se para a escada.
Tudo foi muito rápido, em poucos instantes ele a vira no alto da escada, olhando-o com olhos sem vida e repletos de maldade. Uma dor muitoforte o fez cair de joelhos, algo o acertara no ombro esquerdo, seria ela golpeando-o com poderes sobrenaturais? Novamente a dor, mas dessa vez ele entendeu o que acontecia, não eram poderes sobrenaturais, ele estava tendo um ataque cadíaco, seu coração estava explodindo. Tudo estava escurecendo, e aúltima coisa que seus olhos viram, foi a imagem da mulher descendo as escadas, com um arremedo de sorriso malévolonos lábios, depois tudo ficou escuro.
Os jornais descreveram a cena, como algo inesperado e pavoroso.
O homem chegara em casa e vira sua mulher com outro na sua cama, matara os dois e enrolara o corpo do amante em uma lona, jogando-o na garagem para desova-lo posteriormente, dizia a manchete. Mas o que mais assustou repórteres e policiais, foi a cena encontrada na entrada da casa. O homem morto por infarte fulminante abraçado ao corpo da esposa, vestida com uma camisola toda suja. O que poderia ter acontecido ali?
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