AVISO IMPORTANTE!!!

Se você é daquelas pessoas que não suportam lugares fechados e tem medo de escuro, provavelmente vai ter pesadelos.

22 de julho de 2010

"MANÍACO DO ELEVADO ATACA NOVAMENTE!"

MAIS UMA VÍTIMA É ENCONTRADA.
Na última noite, mais um crime brutal foi executado em Santos.
Uma mulher, de aproximadamente 32 anos foi encontrada na Rua General Câmara, em um terreno baldio, próximo a algumas casas noturnas. Acredita-se que a vítima era uma prostituta que trabalhava em uma das casas noturnas, ainda não se sabe se houve ou não contato sexual entre a vítima e o agressor, porém as autoridades encarregadas do caso acreditem que a vítima foi conduzida ao local por vontade própria já que não há sinais de luta corporal.
O que intriga as autoridades é que, assim como a vítima anterior, também esta foi encontrada com a garganta dilacerada e sem uma única gota de sangue, o que mostra que estamos diante de uma assassino serial.
O corpo foi encaminhado ao IML, e aguarda ser reclamado por familiares, já que não foram encontrados documentos que possam identificar a vítima. O laudo com a causa da morte deve sair antes do fim de semana.
Desta vez não houve testemunhas, pois no momento do crime, por volta de 4:30 da manhã, as ruas estavam desertas.
Alguns frequentadores dos bares da região, declaram ter visto a vítima em companhia de um homem, que, dizem, havia pago um bom dinheiro para que ela ficasse com ele a noite inteira. Dizem ainda, que quando saíram do lugar, houve um desentendimento entre ambos, mas não sabem para onde foram, pois continuaram no interior do estabelecimento.
Os comerciantes locais estão preocupados, pois a sensação de insegurança é grande e pedem reforço no policiamento.
Até o fechamento da matéria, nada foi informado, no sentido de elucidar os fatos.

16 de julho de 2010

EXTRA!!! EXTRA!!!

CIDADE EM ALERTA!!! MANÍACO A SOLTA!!!!
A cidade de Santos vive momentos pavorosos. Um maníaco está a solta pelas ruas causando terror e pânico!
Na noite do último dia 23, por volta das 03:30 da manhã, moradores do bairro Paquetá em Santos, acordaram sobressaltados por gritos assustadores nas imediações da Avenida João Pessoa, próximo ao cemitério. Funcionários de um moinho afirmam terem visto um homem fugir em direção ao cais e literalmente sumir nas sombras do elevado da Avenida Cidade de Santos.
Outra testemunha, um carroceiro que passava na hora em que os gritos foram ouvidos, afirma que uma mulher loura e muito bem vestida, estava mexendo no pneu do seu carro, quando foi atacada violentamente por um homem, que diz a testemunha, surgiu das sombras.
A vítima que ainda não foi identificada, teve ferimentos graves no pescoço e várias escoriações pelo corpo, e encontra-se no IML de Santos aguardando o comparecimento de familiares para realização de reconhecimento, ao que parece, segundo informa a polícia, a vítima não teve nenhum de seus pertences furtados, inclusive em sua bolsa foram encontrados documentos e dinheiro, portanto o motivo não foi roubo.
Acredita-se ainda, que este homem utilize o sangue de suas vítimas em rituais satânicos já que a vítima foi encontrada sem uma gota de sangue e o corte na sua garganta estar localizado em um ponto de onde ele poderia extrair o sangue mais facilmente.
Não há dúvidas quanto a causa da morte, o corte foi profundo e causou danos também a sua laringe, o que a matou quase instantâneamente.
A possibilidade de novos ataques não está descartada, tendo em vista que o maníaco está foragido e é extremamente perigoso. As autoridades alertam para que se tenha cautela ao sair a noite, o policiamento foi reforçado e acredita-se que em breve veremos o rosto do criminoso.

7 de julho de 2010

A Coisa no Umbral


A Coisa no Umbral


Morgan não é um literato; na verdade, ele mal consegue falar inglês com algum grau de coerência. É isso o que me faz estranhar as palavras que ele escreveu, embora outros tenham gargalhado.
Ele estava sozinho na noite em que aconteceu. Subitamente uma vontade incontrolável de escrever lhe assomou, e tomando a pena na mão ele escreveu o seguinte:
Meu nome é Howard Phillips. Vivo na Rua College, 66, em Providence, Rhode Island. A 24 de novembro de 1927 – pois não sei sequer em que ano estamos agora – adormeci e sonhei, e desde então tem sido incapaz de despertar.
Meu sonho teve início num pântano úmido e atulhado de juncos que jazia sob um céu cinzento de outono, com um desfiladeiro encapelado de rochas cobertas de liquens elevando-se ao norte. Impelido por alguma motivação obscura, ascendi à uma fenda ou fissura nesse gigantesco precipício, notando enquanto o fazia que as bocas negras de muitos buracos terríveis estendendo-se de ambas as partes até as profundezas do platô de pedra.
Em vários pontos a passagem era coberta pelo chocalhar das partes superiores da fissura estreita; esses lugares sendo excessivamente escuros, e proibindo a percepção de tais buracos que possam ter existido ali. Em tal espaço escuro senti consciência de um singular acesso de pânico, como se alguma sutil e incorpórea emanação do abismo estivesse engolindo meu espírito; mas a escuridão era grande demais para que eu pudesse perceber a fonte de meu alarme.
Concluindo, emergi sobre um platô de rocha musgosa e solo pobre, iluminado por um pálido luar que havia substituído o orbe moribundo do dia. Lançando meus olhos ao redor, não vi objeto vivo; mas estava sensível a uma comoção muito peculiar que vinha muito abaixo de mim, entre os sussurrantes vestígios do pântano pestilento que eu havia acabado de abandonar. Depois de caminhar por uma certa distância, encontrei os trilhos enferrujados de uma ferrovia de rua, e as placas comidas de cupins ainda seguravam o trole em boas condições. Acompanhando esta linha, logo dei com um carro amarelo de vestíbulos de número 1852 – de um tipo de dois vagões comum entre 1900 e 1910. Não estava tinindo, mas evidentemente preparado para partir; o trole estando no fio e o freio aéreo de quando em vez pulsando abaixo do chão. Entrei a bordo e olhei em vão pelo interruptor de luz – notando, enquanto o fazia, a ausência de cabineiro, que assim implicavam a ausência do motorneiro. Então sentei-me num dos bancos cruzados do veículo. Ouvi um farfalhar na grama esparsa à esquerda, e vi as formar escuras de dois homens caminhando ao luar. Tinham os quepes de uma companhia ferroviária, e não pude duvidar de que fossem o condutor e o motorneiro. Então um deles fungou com presteza singular, e elevou o rosto para uivar para a lua. O outro caiu de quatro para correr na direção do carro. Levantei-me de um salto e corri como louco para fora daquele carro e atravessei intermináveis léguas de platô até que a exaustão me forçou a parar: fazendo isto não porque o condutor tivesse caído de quatro, mas porque o rosto do motorneiro era um simples cone branco com um tentáculo vermelho como sangue na ponta…
Eu estava ciente de que apenas sonhava, mas a própria consciência não me foi agradável.
Desde aquela noite pavorosa, tenho rezado apenas para despertar: isso não acontece!
Ao invés disso eu me encontro com um habitante deste terrível mundo dos sonhos! Aquela primeira noite deu lugar à aurora, e caminhei sem rumo pelos pântanos solitários. Quando a noite veio, eu ainda caminhava, esperando acordar. Mas subitamente abri caminho entre os juncos e vi à minha frente o antigo bonde: e, a um lado, uma coisa com rosto em forma de conte levantava sua cabeça e uivava estranhamente para o luar que se derramava!
Tem sido a mesma coisa todo dia. A noite sempre me leva àquele lugar de horror. Tenho tentado não me mover com a chegada da noite, mas devo andar em meu sonambulismo, pois sempre acordo com a coisa de terror uivando à minha frente na pálida luz do luar, e viro-me e fujo como um louco.
Deus! Quando despertarei?
Foi isso o que Morgan escreveu. Eu iria à Rua College 66, em Providence, mas tenho medo do que posso encontrar lá.
H. P. LovecraftTexto originalmente publicado no livro A Tumba… e Outras Histórias
Extraído do site A Vida e Obra de H. P. Lovecraf
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14 de abril de 2010

SEPARADOS POR UMA RUA

Quando tive oportunidade de morar em Recife, mais precisamente em Jaboatão dos Guararapes, na praia de Piedade, pude observar algo muito comum, mas que só agora me veio a mente como assunto. Sei que, pela proposta do Blog, deveria estar editando contos, mas sinto necessidade de desabafar isso com vocês. O que observei em Recife, é algo que hoje é mais comum, mas que machuca da mesma forma como me machucou na época em que vivi lá. Segregação Social.
A verdade é que, hoje, vivo em Santos, uma cidade que todo mundo conhece por ter os maiores jardins de praia do mundo, por ser a cidade que nos anos 90 foi uma referência no esporte em todos os sentidos, por ser uma cidade que hoje está em crescimento acelerado, por ter o maior porto da américa latina, etc...etc...etc...
Mas há uma realidade acontecendo aqui, bem embaixo de nossas barbas, que não é exclusividade de Santos, como os seus jardins, ou o porto. Há uma separação de classes cada vez maior e uma separação desumana e até preconceituosa.
Cada vez mais, as famílias humildes e menos favorecidas, são empurradas para longe dos pontos turísticos da cidade, cada vez mais essas pessoas ficam distantes da praia ou dos centros comerciais, longe da movimentação cultural. Longe em todos os sentidos.
Está sendo erguida uma barreira invisível mas perceptível ao redor desta cidade, e não só dela, como acredito que em muitas outras.
Não sou adepto do socialismo ou comunismo, nem quero parecer radical, mas é preciso que se atente para o fato de que cada vez mais há uma separação de classes, não baseadas no preconceito racial, mas embasada firmemente no poder aquisitivo.
Quando uma família que tem sua renda na faixa de R$800,00, poderá residir em um desses condomínios que surgem da terra do dia para a noite? Quando um chefe de família que trabalha de sol a sol conseguirá adquirir um imóvel de alto padrão desses que vemos em propagandas e em anúncios de página inteira?
É bem possível que alguns até consigam, porém não são todos. Isso força as famílias de baixa renda a se deslocarem para áreas distantes, para bairros bem deslocados, e a se sujeitarem a morar com seus filhos e filhas, em conjuntos habitacionais, que mais parecem pombais, e que visam tão somente fins eleitoreiros, conjuntos estes que em muitas das vezes são construídos com materiais dos mais baratos, superfaturados para alimentar a corrupção e que em poucos anos começam a se desmanchar por falta de manuenção, quando não se tornam antros de prostituição e crime.
O pai de família se vê, então, obrigado a levar sua família para outra cidade, para tentar a vida em outro lugar, mas lá também provavelmente esta segregação já chegou e criou raízes.
Muitas vezes, vemos em comerciais, nossos "amigos", que nos representam, dando declarações de como estão sendo conduzidas as obras do conjunto habitacional "Fulano de Tal", mas não vemos por trás disso o interesse tão somente político. Aplaudimos a iniciativa de nosso "amigo" e uma vez mais garantimos a permanencia dele ou de seus "amigos" no poder, sabendo que esses "amigos", vão ajudar, na realidade, somente as construtoras desses condomínios de alto luxo, onde o pai de família que trabalha de sol a sol e ganha por seu trabalho, míseros R$800,00, jamais poderá morar.
As famílias menos favorecidas estão sendo empurradas para longe da praia e dos bairros "nobres" da cidade. Parece que estão querendo extirpar algo da vista dos que vem comprar seus imóveis e qeu vem usufruir dos pontos turísticos. Quem sabe no futuro alguem consiga fazer com que as praias se tornem particulares??? Ora, por um bom patrocínio de campanha, quem sabe??? O que essas pessoas tem de bonito a oferecer???
Aí se põe de lado todos os interesses públicos e entram os pessoais, o que é muito comum em nosso Congresso e Câmaras.
A verdade é: "Chora menos quem pode mais" e no caso, financeiramente.
Tomem isto como uma previsão meus queridos, anotem em seus caderninhos esta data e o que está sendo escrito aqui, pois logo logo vocês irão ver que isto que está escrito aqui tem fundamento. As nossas cidades, aos poucos, vão se tornar veladas para quem ganha menos de cinco salários, quem não se enquadrar nisso terá de se retirar para algum lugar que não seja perto de um centro comercial ou de pontos importante da cidade. No caso de Santos, eu fico a pensar que, em verdade, moramos em uma ilha, e o seu entorno é devidamente protegido ambientalmente, pergunto, para onde vai tanta gente????
Este é um desabafo que talvez nem seja lido por você, mas que fica registrado. Estamos em ano eleitoral, não se iluda com as promessas e com as "obras" realizadas, não se deixe levar pelas aparências e pelas pesquisas, é tudo uma forma de manipulação, para que esta segregação seja levada a cabo. Paranóia??? Será???
Seja consciente e lúcido, não se deixe enganar.

Robert Scorpio.

29 de janeiro de 2010

SOZINHO


SOZINHO
Lages-S.C.-28/07/1998-22:45
Ventava e fazia muito frio já há dois dias, as mais otimistas previsões, diziam que provavelmente iria nevar nos próximos dias, o que era uma notícia ótima para muitas pessoas, porém para um morador da cidade, isso era o prenuncio de um tormento enorme.
O homem morava na rua havia muitos anos, e as pessoas da cidade apenas o conheciam pela alcunha de "mendigo". Ele costumava ficar na porta da igreja aos domingos para arrebanhar uns trocados que, invariavelmente em sua maioria, seriam depositados no caixa de um bar qualquer. Normalmente era comum ve-lo bêbado como um gambá, cambaleando pelas ruas de madrugada quando a maioria das pessoas já estava dormindo a sono solto. Era nessas ocasiões que muitos dos marmanjões da cidade, aproveitavam para fazer com ele brincadeiras de gosto muito duvidoso. Não era raro vê-lo as voltas com os valentões, sofrendo as mais grotescas humilhações. Algumas almas caridosas, preparavam refeições para que ele pudesse comer alguma coisa, alternando dias da semana para cada casa e assim o mendigo tinha sempre uma refeição por dia garantida.
Algumas pessoas mais velhas, contavam que o mendigo havia tido família e que tinha filhos espalhados em pelo menos duas cidades próximas, São Joaquim e Urubici. Contavam ainda que o que havia afastado a família dessa forma, era o vício no álcool, que há anos era seu esporte favorito.
Mas hoje, o mendigo estava em maus lençóis pois o lugar que comumente ele usava para dormir, fora interditado pela prefeitura para reparos, sendo assim,ele tinha de se virar com o que pudesse achar. Ele já havia andado o suficiente na chuva e no frio para que o efeito da bebedeira amainasse, portanto é claro que o frio estava se tornando um incomodo.
Quando ele estava próximo a Praça Jonas Ramos, "Tanque", como é carinhosamente conhecido pela maioria dos moradores, lembrou-se de uma casa abandonada que havia ali perto, e tiritando de frio se dirigiu para lá.
Quando já estava dentro da casa, e começava a preparar uma pequena fogueira para se aquecer, perebeu o cheiro. Um fedor quase imperceptível, mas estava lá, provavelmente ratos mortos em estado de decomposição avançada.
Mas o que mais o incomodava, era uma sensação estranha de perigo, como se algo estivesse por acontecer. Seus pelos eram eriçados por calafrios, mas ele sabia que aquele tipo de calafrio, com certeza, não eram efeito do frio, o que o deixava mais cismado.
Com o passar do tempo e, provavelmente por ele estar ficando sóbrio, o mau cheiro começou a incomodá-lo, o que o fez querer saber de onde vinha. Ele sabia que se dormisse, provavelmente morreria de hipotermia, portanto a idéia de procurar a fonte do odor putrefato, era de certa forma animadora, pois havia um pretexto para manter-se acordado e em movimento até que o dia clareasse. Como ele já havia estado ali em outras ocasiões - na maioria das quais ele acordara no dia seguinte sem saber onde estava - resolveu que iria começar pelo porão, o lugar mais óbvio.
Não era exatamente um porão. A mãe natureza foi generosa com a geografia do lugar, e a casa ficava em um nivel mais baixo que a rua que passava nos fundos, os alicerces eram antigos e escavados no terreno formando um pequeno buraco no que seria a parte de trás da casa e media em relação ao piso da casa, 1,60m. Provavelmente, este espaço teria sido utilizado há alguns anos como depósito ou mesmo dormitório para empregados.
Uma porta que ficava na cozinha, dava acesso àquele pequeno porão, o mendigo a abriu e espiou para dentro, e o que viu nada mais era do que um manto negro e quase palpável de escuridão - óbvio, aquele cômodo era o único que não tinha janelas por estar abaixo do nível do solo e a noite estar escura - ele voltou para a sala e conseguiu, com muito cuidado, fazer uma espécie de archote, com paus e um pouco de tecido que haviam jogados por ali. Agora quando abriu novamente a porta, enxergou claramente os degraus de madeira que conduziam ao subsolo. A primeira coisa que o chamou a atenção foi o odor acre da umidade acumulada em anos de abandono, em seguida, um novo calafrio o percorreu da nuca aos calcanhares como uma onda de pavor. Seus olhos estavam esbugalhados de medo e sua pele estava pegajosa.
Ele já estava praticamente abaixo da cozinha quando sua cabeça se chocou contra uma das vigas do piso. Ele praguejou meia dúzia de impropérios e palvrões, dando uma pancada na viga intrometida. Não encontrou nada de especial e decidiu continuar com sua busca voltando em direção a escada que dava para a cozinha e sala. O que encontrou na sua busca pela cozinha e sala não foi nada de diferente, a não ser uma pilha de madeira e restos de uma lona encardida e esfarrapada que parecia ter sido usada como abrigo por ourtro indigente, decidiu subir para o segundo piso.
Já estava no meio da escada, quando percebeu que o cheiro - aquele maldito cheiro - estava ficando mais forte a medida que ele subia, o que o fez duvidar por um momento se seria ou não prudente subir e realmente saber o que era aquilo - com certeza ele lamentaria amargamente não ter ido embora naquele momento - mas decidiu subir, afinal precisava manter-se em movimento e aquecido. Quando chegou ao segundo piso, o cheiro era quase insuportável e o mendigo agradeceu por não ter podido jantar. Não era difícil saber que o cheiro estava vindo do quarto que dava para os fundos no final do corredor, e ele se dirigiu para lá. Ao chegar diante da porta, outro calafrio o percorreu novamente, mas dessa vez, seus joelhos ficaram como géleia, mas ainda assim, isso não foi o suficiente para fazê-lo desistir. Quando o mendigo abriu a porta, uma lufada daquele cheiro nauseabundo o acertou como um tapa e ele lembrou-se da vez em que vira um corpo boiando na beira do rio, com vermes dançando para lá e para cá.
O que ele viu, a princípio não o chocou tanto quanto o mau cheiro, mas depois de uma reflexão breve, algumas questões o assaltaram. O que ele tinha diante de si eram os corpos de três cães, cães mortos, o que em si, não tinha nada de estranho - mas quem seria imbecil o suficiente para deixar três cadáveres como aqueles em uma casa abandonada?
Ele se aproximou dos cadáveres, mas o que notou de pronto, é que não havia sangue pelo chão, e nem nos cães. Envenenamento - Deus, como conseguem envenenar três cães tão bonitos e saudáveis? - Então lembrou-se de já ter visto aqueles cães em uma casa ali nas redondezas, sim já os havia visto, aliás, um deles já havia lhe dado um belo susto outro dia quando estava a procura de latas de alumínio. O que ele não sabia, era que o imbecil que havia deixado aqueles cães ali, ainda estava na casa e o mendigo logo descobriria isso, da pior forma possível.
Por algum motivo, a imagem daqueles cães mortos e aparentemente sem uma gota de sangue, o fez lembrar-se de certas estórias e filmes que vira enquanto ainda era um cidadão respeitado e pagava seus impostos. A imagem de Boris Karloff, Jack Pallance, Bella Lugosi e outros Dráculas, invadiram sua mente em uma torrente assustadora que o fez tremer, e um novo calafrio o invadiu.
A chuva havia passado e ele estava praticamente seco e o que era melhor, havia esquecido completamente do frio. Não seria uma boa idéia sair dali e procurar um lugar melhor para se abrigar? Afinal alguem podia chegar enquanto ele estivesse ali, a polícia talvez, e encontrar aquela cena macabra no andar superior. O que se seguiria seriam alguns safanões e xingamentos, provavelmente passaria a noite na delegacia. Mas a idéia de sair dali, tornava até a cela da delegacia, um lugar mais aconchegante, e naquele instante o mendigo desejou realmente que a polícia passasse por ali e o levasse embora daquele lugar medonho.
Um som na direção da escada o tirou bruscamente dos seus devaneios, ele não estava mais sozinho, alguem o estava observando e ele podia sentir que realmente algo ou alguem o observava, ele precisava sair dali imediatamente - tarde demais.
Ele quase cambaleou para a escada, e começou a descer aos tropeções quando a manga de seu casaco se enroscou em um prego saliente e o fez cair de mal jeito. Uma onda de dor irrompeu como um choque no seu pulso, seus olhos se encheram de água e sua boca, seca como uma lixa, se abriu para um grito gutural, mas o que saiu foi apenas um guincho agudo e sem força. Colocando-se em uma posição melhor, retirou do prego a manga esfarrapada de seu casaco, sentindo que nada havia no fim de seu braço além de uma massa latejante de dor e ossos desconjuntados.
Aonda de pavor, agora era quase palpável e todo o seu corpo se contorcia em espasmos de medo, a casa parecia se fechar acima de sua cabeça e ele teve a sensação de estar sendo esmagado pelas paredes. Um som de madeira estalando, fez com que sua mente ficasse lúcida e atenta novamente - não, definitivamente ele não estava sozinho - ele olhou em volta e não viu nada além de penumbra, sua única fonte de luz se extinguira quando ele rolou escada abaixo e agora sua pequena fogueira havia se apagado. Ele conseguiu ficar em pé, mas percebeu que também havia batido seu tornozelo, porém nada como ossos fora do lugar e tendões retorcidos. Tentou andar o mais rápido que conseguia para alcançar a porta da frente e ao chegar a ela, percebeu que ela havia sido fechada - ora que lapso, ele mesmo havia fechado a porta por causa do vento - correu para ela e jogou seu corpo contra o batente, girando a maçaneta desesperadamente. Trancada. Não, não podia ser, ele entrara por ali - ou não? Afinal estava bebado quando entrou por ali e o pânico lhe estava pregando peças - decidiu então que iria pelos fundos, e aos trancos atravessou o corredor que levava a cozinha.
Já deviam ser quase 4:00, pensou ele enquanto atravessava o corredor, logo vai amanhecer - vampiros não se dão com a luz do dia, pensou ele recriminando-se em seguida por alimentar o pavor que já se instalara em sua mente - ao atravessar a cozinha, ele percebeu o movimento a sua direita. Estacou e sondou as sombras tentando ver alguma coisa que não fossem dejetos. Algo se moveu a sua esquerda e ele se virou rápido, preparando um golpe com a mão que não estava ferida, mas seu braço foi segurado com firmeza por algo gelado e sem vida.
Agora o pavor tomou conta do mendigo e todos os seus cabelos estavam eriçados, porém o que se seguiu foi rápido demais para que ficasse marcado em sua mente antes da escuridão total. A única coisa que ele viu na escuridão da casa foram um par de olhos, vermelhos como o fogo do inferno e cheios de malícia e ódio, então veio a morte e o levou em seu abraço calido e carinhoso.